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Uma Höfner archtop guitar de 1957 nas mãos do Dirk Serries é de nos sentarmos e prestarmos atenção a cada momento em que ele toca naquelas cordas, a cada momento em que nos deixa respirar.
Um solo de guitarra acústica num LP que não nos desilude. Começamos com Axis e em menos de 3 minutos estamos em Grid ─ um dos meus temas de eleição deste disco. Permite-nos escutar em diferentes direções, deixa em aberto o que nos será apresentado nos temas seguintes e mostra-nos a versatilidade do Dirk.
As minhas raízes, para quem ainda não me conhece, vêm do rock. Ao longo dos anos procurei outros géneros, onde o meu ouvido fosse desafiado. Foi na improvisação que esse desafio me deu mais prazer. Foi na improvisação que descobri, de novo, os instrumentos, os seus corpos, as suas sonoridades, tudo o que deles pode provir nas mãos certas.
Nestas mãos que aqui desbravam a guitarra descubro um disco que me faz voltar atrás nas faixas. Procurar pequenas nuances e pormenores. Ouvir a guitarra e a forma como o Dirk interage com ela. A forma como falam connosco em simultâneo, sem se atropelarem. Em Overlap percebemos isso mesmo: como músico e instrumento se entendem, se deixam levar pelo momento. O Dirk passa as mão no corpo, ora mais subtil, ora mais agressivo e ela, a guitarra, mostra-lhe as suas potencialidades, dá-lhe o corpo para que os possamos ouvir em pleno.
Em Kinetic senti-me, mesmo que por poucos segundos, numa dança latina em que nos gingamos, em que seduzimos e somos seduzidos. Começo a deixar-me guiar pelo Dirk. Que a sua Höfner, nua e crua, me deixe ir até 31 de julho de 2020. Até ao momento em que este disco foi gravado no Sunny Side Inc. Studio.
Se pudesse sentava-me frente a frente com o Dirk. Teria muito que lhe perguntar. Talvez tentasse perceber que história lhe passou pela cabeça enquanto dedilhava a guitarra. Sons quentes e sedutores. Rhetoric foi o tema que me fez questionar o que lhe iria na mente, que lugares, pessoas, cheiros e sons o fizeram improvisar desta forma.
Sketch é o tema mais longo deste disco. Seis minutos de dinâmicas, de momentos intensos, de toques subtis, cheio de garra e vontade. Fiquei em plena harmonia com o decorrer dos segundos, senti que caminhava para o fim do disco. Entro em Exertion de rompante. Reconcentro-me.
Fecha-se o disco com Areal, mas não resisti a voltar a Sketch uma última vez antes de parar de ouvir. Voltar a esse tema, é voltar ao resumo do disco. É nessa faixa que temos como que a sinopse de tudo o que já ouvimos e do que está para vir.
Aconselho que ouçam com atenção, que se deixem guiar entre mãos e guitarra. O Dirk entra em 2021 em grande com este LP!
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