top of page
Buscar

Sombras e silêncios

Músico convidado: Ricardo Jacinto (Violoncelo). "Ciclo I" do disco Medusa II

Fotografia: Margarida Azevedo




Inspira e... expira.

Inspira e... expira.

Repete-o calma e compassadamente.


Tenso. Deitado. Inspira e expira. Não há nada que um corpo nu não nos revele na sua silhueta de sombras e silêncios.


Inspira… e expira.

Inspira... e expira.

Repete-o calma e compassadamente.


Emite um pequeno grunhido grave. Profundo, sentido e extenuante.

“Não o ouves?” - perguntou-lhe ela enquanto ele se mantinha tão mudo e tão calado como as paredes do quarto que teimavam em não querer ouvir.


A porta rangeu deixando para trás as pegadas dos pés húmidos dela.


Inspira e... expira.

Inspira e... expira.


São onze da noite e a luz do candeeiro da rua reflete um brilho desvanecido no espelho do quarto.

Os silêncios do corpo dele eram semibreves no violoncelo dela.

Mantinha-se apenas o essencial. O primário e elementar.


Inspira… e expira.

Inspira... e expira.


“Amor? Não ouves?” - sussurrou ela à porta de casa enquanto ele se mantinha cego e extenuado.


A porta fechou-se deixando para trás a marca dos saltos pontiagudos dos sapatos dela.


Inspira e... expira.

Inspira e... expira.

Inspira e…

Inspira.


A respiração susteve-se no momento em que ele abriu os olhos e não mais ouviu as cordas ressoarem nas paredes mudas.


Expira…

Por favor.

Expira…

43 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page