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Foto do escritorMargarida Azevedo

Ter e ser - Teser


Fotografia de Ricardo Leiria



Ter e ser.

Ter é sinónimo de rebeldia, de incompreensão, de um ser que não compreende o que tem.

Ser é perceber o ter, dar-lhe um valor indescritível, chorar de saudade porque quer o ter mais próximo.

Depois de ser, o ter ganha outro peso. Outro respeito.

Ser mãe é passar os valores do ter. É passar os valores que o ter uma mãe nos deu.

Teser - devia tornar-se uma palavra. É na verdade como tecer. Nós filhas somos tecidas por mimos, valores e olhares profundos.

Ter mãe é uma dádiva que nos provoca medo de deixar de a ter.

Ser e ter. Nunca estas duas palavras se complementaram tão bem dentro de mim.

O ter de cabelos completamente brancos. Os mais brancos e perfeitos que conheço. O colo do ter. O afago do abraço e o beijo profundo. Ter - esse ser que aos meus olhos é tão reconfortante que me faz acreditar que nunca nada de mal me poderá acontecer.

Esse ter começa a ser. A ser em mim. Ser a mãe que começa a ter esses cabelos brancos. Que percebe que o colo que dá, mesmo que por vezes inseguro e a medo, transmite ao seu fruto a maior segurança do mundo.

Teser. Foi isso que a minha mãe me fez. Um ter que passou a um ser.

E que o que ela me tem dado e tecido.

Sei que o quero teser à minha filha.

Ter uma mãe, ser uma mãe.

Se juntarmos ao presente do verbo ter, o futuro do verbo ser.

Temos um será.

E daqui surge a dúvida. Será, mãe?

Será que conseguirei ser para a minha filha o que tu foste e és para mim?

Será que te ter é eterno?

Neste ciclo de vida o ter e o ser complementam-se. Tu tiveste-me e somos tão ligadas que sinto que mesmo hoje sem poder dar-te um beijo ou um abraço não nos faltou aquele sorriso à janela de quem sabe que ter e ser são dois verbos inseparáveis entre nós.

Ser no presente. És. És o porto seguro de mãos mais envelhecidas, mas de uma força tão jovem que me faz orgulhar-me de falar de ti.


Quando me falta o abraço ou o beijo porque um vírus me afasta de ti…

Um vírus que não tem, nem é. Nem sequer é um ser vivo.


Ser e ter.

Dois verbos que hoje, mais que noutro dia qualquer, são aliados no que sinto pela minha mãe.


Amo-te com todas as minhas forças.


Para a minha mãe com todo o amor.


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