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The Book of Spirals


 

Podem ouvir aqui.


“The Book of Spirals” conta-nos uma viagem. Viagem essa que começa de forma meio atribulada entre escadarias e vales.

Se ouvirem “swirl” com atenção perceberão o que escrevo. O piano do Rodrigo Pinheiro é indescritivelmente marcante. Ora o degrau está lá subtil e baixinho, ora se demarca entre as cordas dos outros instrumentos e a marimba do Pedro Carneiro.

Ora quem pensa que a viagem é linear, numa auto-estrada em velocidade cruzeiro, que se desengane.


É para ouvir de headphones, porque cada pormenor tem de entrar bem pelas vias auditivas até que o cérebro processe que é um quinteto e que cada um dá um pouco de si a cada nota. Viajam no mesmo carro, os cinco, mas sem um condutor. São os cinco ao volante, conduzem e deixam-se conduzir.

Anseio por ouvir a respiração de um deles. Sinto que uma respiração presente nos levaria para dentro do carro. Mas lá vão eles.


Aos sete minutos é como se o carro parasse para saírem e seguirem a pé. Seguem em marcha moderada e mostram-nos o ambiente externo que os rodeia. “Swirl” é isso mesmo! Um rodopio, um turbilhão entre o interior de um carro em andamento e uma caminhada em que nos embrenhamos numa densa e complexa teia de sons, sensações e caminhos.

E quando a viagem ainda está a começar pensamos que o destino final só pode ser brilhante. A meio de “swirl” é isso que este disco nos promete. Uma viagem com um destino absolutamente introspetivo.


Aquela marimba que nos faz sentir num cenário de suspense, o contrabaixo repentino e brusco que nos leva de um lado para o outro, o piano que nos faz querer subir a escadaria que surge inesperada no caminho, o violoncelo tão subtil que nos apazigua e a viola que nos acompanha entre diálogos nesta longa viagem cheia de curvas e contra-curvas.


Em 22 minutos, entrámos e saímos de um carro em andamento, caminhámos num bosque cerrado onde do nada surge uma escadaria e acabámos sentados, ao lado do quinteto, à espera de recuperar a respiração.


Do esperado ao inesperado, há tempo para que tudo decorra. Quando entramos em “whril” continuamos atentos à história. Que se adensa, se torna mais embrenhada, intensa e complexa. E claro que se torna mais complexa, estamos a falar de Ernesto Rodrigues, Guilherme Rodrigues, Hernâni Faustino, Rodrigo Pinheiro e Pedro Carneiro.

Continuamos num corropio, num turbilhão que se torna de tal forma intenso que para trás ficam todos os lugares por onde já tínhamos passado nesta viagem.


Entramos em novos ambientes, novos cenários, que aceleram o ritmo da respiração e nos deixam na dúvida sobre o destino para onde afinal, tão certos, caminhávamos. A viagem não é linear. E sobre isso eu já tinha avisado. E quando fazemos viagens sem destino pré-definido o prazer de acompanhar o quinteto cresce. Quantos de nós não gosta de se colocar num carro com destino incerto e ir experienciando as peripécias que o inesperado nos pode trazer.


“Twirl” é o momento em que sabemos que estamos a caminhar para o fim do disco. A forma clara com que se anuncia prepara a nossa mente para não deixar passar um único pormenor.

É incrível como nos sentimos a voltar ao início da viagem. Voltamos aos poucos à escadaria que surge escondida após pararmos o carro.


Voltamos aos momentos que nos fizeram iniciar a viagem. Deixamos o rodopio de “whirl”, esquecemo-nos que estamos em “twirl” e sentimos que voltamos onde tudo começou - “swirl”. Mas isso pensamos nós, porque aos 15 minutos temos de preparar-nos porque a viagem, que parecia estar a terminar, sofre um rodopio. E quando a viagem acaba, sentimos que afinal não estamos no ponto em que começámos.

Nem pensar!


Um disco para ouvir atentamente onde os cinco conduzem e são conduzidos e nos levam numa viagem com o tempo certo para nos perdermos entre estradas, bosques, escadarias e afins.


Ficha Técnica


Recorded on December 1st 2019 by Pedro Carneiro at Orquestra de Câmara Portuguesa, Algés, Portugal. Mixed and mastered by Rodrigo Pinheiro. Graphic design by Carlos Santos. Production by Ernesto Rodrigues.

released March 27, 2020 Ernesto Rodrigues - viola Guilherme Rodrigues - cello Hernâni Faustino - double bass Rodrigo Pinheiro - piano Pedro Carneiro - marimba (with quarter tone extension)



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