Dor, obsessão, depravação e sofrimento. Tudo isto com um humor requintado e ao estilo de Junichirō Tanizaki. Utsugi - setenta e sete anos. É este o nome e a idade do velho louco de Junichirō Tanizaki. Utsugi escreve no seu diário com uma frequência obsessiva. As terríveis dores na mão não toldam os seus pensamentos. Pensa na sua própria morte com o mesmo ritmo que planeia o seu descanso final. Planeia o seu descanso final com o mesmo grau de depravação com que pensa na sua nora.
A degradação física acontece a um ritmo rápido e as suas fantasias sexuais são cada vez mais intensas. Talvez para compensar a quebra de vigor que acompanha a velhice. A sua nora, Satsuko, excita-o ao ponto de o matar. As descrições dos momentos são intensas e levam-nos até ao pensamento mais íntimo de Utsugi. Acompanhar o que escreve no diário é acompanhar uma mente ativa num corpo sem saúde. É perceber que na velhice o desejo mantém-se apesar do corpo não corresponder. A imoralidade é retratada pelo autor de forma delicada e divertida.
O início da leitura é difícil. Os nomes dos personagens são japoneses e não nos são familiares, mas com o passar das páginas os nomes tornam-se parte do texto e a leitura é, gradualmente, mais tranquila. As tradições japonesas e as referências ao teatro Kabuki são uma constante e aguçam-nos o interesse pela cultura japonesa.
O final não foi o esperado e o impacto de toda a história, na minha opinião, perde-se, mas é, sem dúvida, um livro inesquecível. Sobre o autor (parte da nota retirada do livro): Tanizaki nasceu em Tóquio, em 1886. Fez parte da sua educação as idas regulares ao teatro. Estudou Literatura Japonesa em Tóquio e acabou por ser expulso da Universidade devido à vida boémia que levava. Casou-se, em 1915, com uma antiga gueixa e esteve envolvido num triângulo amoroso com Satô Haruo, um escritor seu amigo.
Separou-se e casou-se mais três vezes. Sempre com mulheres mais novas que ele.
Tanizaki faleceu a 30 de julho de 1965.
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