Obsessão, paixão e ilusão. Romance com descrições bem ao estilo de Junichirō Tanizaki. Naomi.
Pele branca, pés fascinantes e uma sensualidade atroz.
Esta é a mulher que enfeitiça Jōji.
Jōji tem 28 anos quando se cruza com Naomi de apenas 15. O seu objetivo? Ocidentalizar Naomi e torná-la a mulher perfeita. Não olha a despesas para atingir os fins e é ridicularizado durante a maior parte do processo.
Usado, gozado e humilhado. É assim que vejo Jōji. É assim que o interpreto.
Não poderia escrever sobre este livro sem concordar que “quem vê caras não vê corações”. A pureza da pele branca de Naomi não reflete a sua verdadeira essência.
As descrições dos espaços e dos personagens são fluídas e apesar de regulares e longas não cortam, de forma alguma, o ritmo de leitura. Ansiei diversas vezes pelo parágrafo seguinte, pela próxima página, pelo próximo pensamento desviante do autor.
Na história, as danças de salão, que floresceram no Japão após a I Guerra Mundial, assumem um papel de destaque na descrição de costumes ocidentais. A dança, a sensualidade e a ostentação num corropio de palavras.
Ao longo do romance é visível a obsessão de Jōji com os pés de Naomi. A sua atração por Naomi e a forma como o corpo de menina se transforma num esbelto corpo de mulher é um tema recorrente.
O enredo de Naomi leva-nos, por vezes, para o lado depravado da mente de Jōji. Tem passagens duras e sentimentos como a raiva são retratados em frases simples e pequenas: “O que estás fazer? Humilhas-me! Relaxada! Vadia! Puta!”. A imoralidade é retratada pelo autor de forma bruta e direta.
O final não é surpreendente, mas é triste e transporta-nos para a fragilidade humana e a manipulação do outro.
Sem dúvida que a leitura de Naomi flui com maior facilidade que a de Diário de um Velho Louco.
Pontos em comum: a mente arisca e sexual de Junichirō Tanizaki. Sobre o autor (parte da nota retirada do livro): Tanizaki nasceu em Tóquio, em 1886. Fez parte da sua educação as idas regulares ao teatro. Estudou Literatura Japonesa em Tóquio e acabou por ser expulso da Universidade devido à vida boémia que levava. Casou-se, em 1915, com uma antiga gueixa e esteve envolvido num triângulo amoroso com Satô Haruo, um escritor seu amigo.
Separou-se e casou-se mais três vezes. Sempre com mulheres mais novas que ele.
Naomi foi escrito em 1923 e foi o seu primeiro romance importante. Uma obra que vale a pena ler e reler. Tanizaki faleceu a 30 de julho de 1965.
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